Malária, Mandimba, Montanha, Graduação… e malandros mafiosos!

Publicado: 20 de dezembro de 2008 em Sem Categoria
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Depois de dias trabalhando, chegou o esperado dia da Graduação! Os estudantes perfilados na entrada da escola, com vestimentas sociais brancas e pretas, cantavam desde cedo canções, hinos e contribuiam com o sol para fazer um amanhecer perfeito. A medida que passava entre eles para lehs tirar fotografias cantavam sorrindo para mim “O Mauricio nunca mais esquecerei, suas fotos nunca mais esquecerei, suas musicas nunca mais esquecerei” e eu sorria de volta grato por uma recordação tão sem interesses. A vasta maiorias desses rostos não voltarei a ver a não ser por essas fotografias que tirava naquele momento.
graduandos
graduandos

 A escola estava lotada de autoridades. Algumas oficiais, outras tribais, ritualisticas. Chefes de porções de terra do tamanho de uma bairro, responsavel por dez ou quinze familias. Uma honra que só os homens idosos conseguem. Contrastando com a juventude do representante do governo provincial.

Durante a entrega dos diplomas, as familias e amigos do graduado esperam pelo instante em que ele recebe o papel nas mãos, para logo em seguida abraça-lo, dar-lhe presentes, dinheiro, agrados! As mulheres gritam de alegria, e com orgulho exibem os diplomas que levantam alto para todos verem. É emocionante. Para essas familias, esse diploma representa segurança economica! Esse que agora é professor vai poder cuidar de dez ou mais pessoas na familia. Os anos que demoraram para juntar 5 mil meticais (equivalente a + ou – 416 reais!), custo de dois anos e meio de formação, tem agora a sua recompensa assegurada.

No dia seguinte a montanha me chamou. Ela já estava me paquerando desde que cheguei aqui. E naquele domingo piscou, sorriu, assobiou até que decidi ir vê-la mais de perto. Pemba é nome dessa menina que fica aqui do lado da escola. Quando esta sol ela brilha verde com alguns toques de rocha nua, e quando esta frio, ela fica timida e se esconde atras de nuvens e neblina. A mochila com pão e água, frutas, o canivete, musica e a camera que logo na primeira foto mostrou não ter pilhas! consegui uma carona com o padre local até a sua paroquia, próxima ao pé da montanha. Foram duas horas caminhando por trilhas solitárias. Vez ou outra cruzava um machamba (horta) que os camponeses fazem no meio da mata. Marcas de animais, vi pegadas de macaco, grandes! Insentos diversos. Duas chuvas cairam. E por fim uma vista maravilhosa se extendendo por kilometros! Cadeias de montes, vilas, outras vilas, machambas, aldeias! Tudo se espalhava lá de cima. Fiquei por cerca de uma hora, me sentido parte da montanha, integrado àquela masjestade.

minha namorada...

minha namorada...

Uma hora e meia para descer. Com passos talvez mais leves, embora com os pés pesados de matope.

Dois dias depois o diretor da escola me pediu que fosse a Mandimba, para aplicar o exame de admissão para os alunos que estudarão aqui ano que vem. Mandimba é uma vila famosa por dois motivos. O primeiro é que fica a na fronteira com o Malawi, e esse primeiro motivo é a razão do segundo, a saber, Mandimba é um centro de diversão e entretenimento.Um centro, no entanto, pequeno, e digo novamente, pequeno. embora realmente movimentado à noite, Mandimba é um lugar bastante humilde. Há muita prostituição, as meninas chegam a bater na porta do quarto oferecendo-se. Jovens, algumas meninas, mas já mães, coisa comum por aqui. Por fim resolvi conversar com Julia. Ela me pediu 500 meticais para termos sexo, eu perguntei quando ela queria só para conversar, disse cem meticais, aceitei. 22 anos, mãe de uma menina de 2 anos e sete meses, ela estudava para poder ter um emprego. De que, eu pergunto, ela diz, qualquer, só não quero ficar assim pro resto da vida. Quem toma conta dela, agencia, sei lá, é o tio, Mataka, chefe dos garçons do restaurante mais famosos da cidade. Ela insiste em chama-lo de Papa, papai. No fim, diz que esta com pressa, oferece novamente o serviço, nego, ela diz que não vai querer os cem meticais de conversa e vai embora.

O teste em si foi revelador, ao menos para mim. O secretario de educação local, extremamente politico, nos bajulou dezenas de vezes e colocou um funcionário à nossa disposição. 46 alunos faziam a prova naquela localidade. A escola se chamava Samora Machel, como quase todas as escola secundarias aqui. Quando se iniciou a prova foi que ficou evidente o disparate entre o nivel dos estudantes e o nivel da prova. A diferença era enorme. Duas provas, uma de português e uma de matemática demoram mais de 4 horas para serem feitas. Passando os olhos sobre as provas que me eram entregues, as duvidas que perguntavam e maneira como se comportavam, colando de todas as formas possiveis, mostrava que não sabiam o que estavam fazendo. Triste.

O carro quebrou na ida e na volta. A viagem que deveria ter durado dois dias durou tres. A ida e a volta, de três horas cada, se tornaram seis e oito horas respectivamente.

Na volta, disfunção intestinal, dores pelo corpo. Sinais de malária. Primeiro pensei que poderia ser a água de Mandimba, mas quando acordei à noite com o corpo extremamente dolorido, não tive duvidas, eu estava com Malária. Pedi para ir ao hospital. Aprovetei que um grupo de pessoas ia à cidade e fui junto para o hospital provincial. A consulta custava um metical, oito centavos de real. Fui atendido rapitamente, e acredito que não pelo fato de ser branco ou brasileiro, pois passei por todos os processos, que não levaram cinco minutos. O médico logo me pediu um exame de sangue que feito gratuidamente ficou pronto em meia hora. HIV negativo, Malária negativo. Era a água mesmo. De qualquer forma o doutor me recomendou um anti-malária caso eu continuasse a sentir dores no corpo. me deu o o numero de seu celular, pegou o meu e disse que vem me visitar no final de semana para ver se estou bem! Incrível!

Hoje de manhã o misterioso roubo na casa de uma funcionária da escola foi solucionado. Dois alunos graduados foram os ladrões de uma rádio que ela tinha em casa e que lhe ameaçaram de morte durante o roubo. Como eu tinha tirado foto de todos os graduandos as fotos dos dois já estão na policia e com os arquivos da escola vão chegar às casas dos mesmos ainda hoje.

A Sonia, a secretaria que foi roubada só dizia, São uns malandros, uns mafiosos…

na africa selvagem...

na africa selvagem...

 eu voltarei a postar contos zen, mas antes, mesmo com a possibilidade de perder leitores, recomendo que leiam esses dois textos aqui…

texto 1

texto 2

 

 

comentários
  1. Gabriel Lucas disse:

    Olá, Mauricio!

    Não sabia que você estava em Moçambique. Ótimo texto, já vi que passarei um bom tempo lendo os outros.

    Abraços,

    Gabriel Lucas

  2. Ruiva disse:

    Padawan.. hoje sonhei com você e sua montanha…rs
    gozado isso..

    como sempre um espadachim das palavras..

    beijocas

  3. Luana disse:

    “C’est beau…si tu voyais le monde au fond, là-bas”…pensei nisso enquanto li sobre a montanha, heheheheheh. Texto muito interessante, moreno.
    Beijos, te cuida.

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